domingo, 22 de fevereiro de 2009

O Olhar

O olhar é estudado separadamente da expressão facial devido à grande importância que o mesmo tem na comunicação não verbal por si só. O olhar tem um papel determinante na percepção e na expressão do nosso mundo psicológico. A variedade de movimentos possíveis com os olhos é ínfima quando a comparamos com as expressões faciais, em que por exemplo, uma simples elevação das sobrancelhas, é um acto físico que nasce e morre numa área física localizada, já o olhar apesar de estar fixado e originado nos olhos, não morre neles, vai mais além, e é essa capacidade de projecção que confere muita importância no olhar.

O olhar tem um papel variado na interacção, sendo as mais relevantes as seguintes: o olhar regula o acto comunicativo, através do olhar podemos indicar se o conteúdo de uma interacção nos interessa, evitando assim o silêncio; é uma fonte de informação, ou seja, as pessoas olham enquanto ouvem para assim obterem uma informação visual que complemente a informação auditiva; o olhar é uma forma de expressão das emoções, podemos ler no rosto das outras pessoas sem as olharmos nos olhos, mas quando os olhos se encontram, não sabemos somente como se sente o outro, mas também que ele sabe que nós conhecemos o seu estado de ânimo, por último, o olhar é demonstrador da natureza da relação interpessoal, ao encontrarem-se os olhares dizem qual a sua intenção e que tipo de relação mantêm.

O estudo do olhar contempla diferentes aspectos, entre os mais proeminentes encontram-se, a dilatação das pupilas, o número de vezes que se pestaneja por minuto, o contacto ocular e a forma de olhar. A dilatação das pupilas é um indicador de interesse e de atracção, as nossas pupilas dilatam quando vemos algo que nos interesse, a conduta das nossas pupilas podem ser comandadas conscientemente, assim podemos estabelecer uma determinada atitude para com uma pessoa e quanto mais favorável for essa atitude maior será a dilatação das pupilas. Já o número de vezes que se pestaneja está relacionado com a tranquilidade e o nervosismo, quanto mais pestaneja uma pessoa mais essa pessoa se encontra nervosa. O contacto ocular refere-se ao olhar que uma pessoa dirige para o olhar da outra, neste campo são estudados dois aspectos fundamentais: a frequência com que olhamos para o outro e o tempo desse contacto ocular. O retorno de informação é fundamental numa interacção, quando alguém fala, precisa de saber que é ouvido, tal como, quem ouve necessita de sentir que a sua atenção é assimilada por aquele que se dirige a ele, estes dois requisitos são cumpridos através de um adequado uso do contacto ocular. As pessoas que gostam umas das outras mantém um contacto ocular muito maior, do que as pessoas que não gostam umas das outras, a frequência com que olhamos para o outro é um grande indicador de interesse, agrado e sinceridade. O evitar olhar ou o olhar fugaz ou ocasional é impeditivo de um retorno de informação, reduzindo assim, a credibilidade do emissor. A frequência do olhar para o outro aumenta quando se está muito afastado, quando falamos de temas simples ou interpessoais, se uma pessoa é extrovertida, quando existe um interesse pelo outro, quando amamos ou gostamos do outro, ou se a outra pessoa envia sinais positivos de resposta; ao passo que, a frequência vai diminuir quando estamos muito juntos, se estamos a falar sobre assuntos íntimos ou difíceis, se não gostamos da outra pessoa, se somos introvertidos, ou se não existe um interesse nas reacções por parte da outra pessoa.

Os olhares prolongados sem pestanejar são usados para dominar, ameaçar, intimidar ou influir sobre os outros, também são utilizados pelas pessoas que gostam muito umas das outras, mas o pestanejar nesses casos é mais intenso. Um contacto ocular que seja muito longo é sinónimo de manifestação de superioridade, falta de respeito, atitude ameaçante ou vontade de insultar, por seu lado, um contacto ocular pouco prolongado é interpretado como falta de atenção, falta de sinceridade, de honradez ou de timidez. O baixar a vista deixando de olhar para os olhos é um sinal de submissão. A experiência de ser olhado quando dura pouco é agradável e recompensadora, contudo, se essa experiência dura mais, vai criar uma sensação de incómodo e de ansiedade. Existem diferenças individuais em relação ao uso do olhar consoante cada tipo de personalidade, as pessoas que são extrovertidas utilizam olhares mais prolongados do que as pessoas introvertidas. As pessoas que necessitam de uma maior afiliação utilizam mais o olhar em ocasiões de colaboração ou amigáveis, já em situações que sejam competitivas, utilizam-no principalmente as pessoas que são dominantes. Esta particularidade é mais notória nas mulheres, porque utilizam mais vezes o olhar do que os homens, especialmente quando estão a falar com outras mulheres e usam esse olhar de uma forma bem diferente dos homens, por exemplo, se sentem simpatia por determinada pessoa, olham-na enquanto falam, já os homens olham enquanto ouvem.

A comunicação entre duas pessoas será mais efectiva e mais harmoniosa quando a sua interacção contemple uma determinada proporção de olhares que ambos considerem adequada à situação. Devemos pois, dosear esses olhares de uma forma melodiosa, para assim, podermos ser compreendidos e compreendermos o outro.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

O Retrato de Dorian Gray

Dorian Gray é um jovem de um jovem beleza rara e inquietante de quem Basil Hallward, um artista de renome está a pintar o retrato. Influenciado por um amigo do pintor, o jovem modelo rapidamente se convence de que a beleza é o valor sopremo da vida e faz um pacto demoníaco, desejando poder envelhecer só no retrato e manter a sua beleza para sempre. Transformado por este estranho poder, Dorian entra numa espiral de acontecimentos que o vão tornando um ser cada vez mais cruel, impiedoso e debochado e a todos os seus crimes e pecados vai respondendo o quadro com uma imagem de fealdade e degradação cada vez maior...
Clássico de romance gótico, o presente livro ficou para a história como uma das obras mais famosas de Oscar Wild.


Comecei agora a ler este livro que me foi oferecido numa troca de prendas... Assim que o acabar deixarei aqui uma opinião ou alguma passagem que ache interessante :)

Quase

"Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase.
É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.
Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.
Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance; para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer. Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que lanejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu."

Luis Fernando Veríssimo

Este texto é para mim, sem a menor dúvida, a melhor descrição da realidade que está todos os dias perante os meus olhos... Em cada frase deste texto encaixa tudo aquilo com o que contacto e por isso não me canço de o ler, reler e voltar a ler. E sempre que o leio, tal como Veríssimo, também contesto. Quere-me parecer que hoje em dia as pessoas não sabem viver. Ou então não querem viver. Não sei. Também nunca me lembrei de perguntar... Viver a vida em toda a sua plenitude não é o mesmo que existir, nem sinónimo de festas, paixões passageiras, status, imagem, e tudo o resto que daí advém... Creio que é muito mais do que isso: é frescura, sorrisos verdadeiros, sinceridade, amizade, paixões verdadeiras e confiantes, felicidade...E parece-me que é muito disto que falta a muitas pessoas: "sobra cobardia e coragem até para ser feliz". Actualmente vive-se para uma imagem, para uma carreira, para um status, para aquilo que os outros vivem e querem que nós vivamos também; vive-se para tudo menos para nós. Confesso que por vezes fico tentada a seguir esse caminho, "tornar-me eles e não eu", quando quase todos à minha volta são assim, mas resisto porque sei que esse estilo de vida não me acrescenta nada nem completa. Acho que no fundo as pessoas têm medo em se afirmar e vivem a tal vida morna, tal como as algas que vão e vêm ao sabor das ondas do mar. Não conseguem ser autênticas, nem assumir compromissos. Sentem uma insatisfação com a qual não conseguem lidar e andam sempre à procura de algo que não sabem bem o que é. Vivem sempre no abismo entre aquilo que querem e aquilo que acham que deviam querer e vão tropeçando constantemente nos outros à sua volta até chegarem onde querem...ou pensam que querem. Ninguém consegue ser feliz assim. E por isso contesto.